Durante o mês de setembro, a saúde mental ganha ainda mais destaque com a campanha Setembro Amarelo, que reforça a importância da conscientização sobre a prevenção ao suicídio e o cuidado com o bem-estar psicológico e emocional. Mas um ponto ainda pouco discutido é a relação direta entre saúde emocional e a visão. O que acontece em um desses sistemas pode afetar diretamente o outro.
O oftalmologista do Hospital de Olhos Vitória, Rafael Paiva, comenta que uma visão saudável desempenha um papel importante na qualidade de vida. “Dificuldades em enxergar podem limitar atividades cotidianas como a leitura, participação em eventos sociais, atividades esportivas e até mesmo conversas, o que pode contribuir para o isolamento e afetar a independência. Essas restrições podem levar a sentimentos de frustração e ser um gatilho para quadros psíquicos, como ansiedade e depressão”.
Uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) mostrou que adultos com perda visual têm o dobro do risco de desenvolver depressão em comparação com pessoas que enxergam bem. Já um estudo da BMC Ophthalmology revelou que pessoas com baixa visão relatam mais ansiedade em interações sociais. Em fases da vida em que aparência e aceitação são tão importantes, isso pode afetar profundamente a autoestima.
Por outro lado, o estresse e a ansiedade, cada dia mais comuns entre as pessoas, podem levar ao surgimento de problemas visuais. “Esses quadros podem levar a um estado de hiperatividade do sistema nervoso e agravar ou causar efeitos na saúde ocular. É comum pessoas com estresse ou ansiedade intensos apresentarem sintomas como fadiga ocular, visão embaçada, dificuldade, tremores nas pálpebras e até episódios de visão turva ou perda de visão temporária”, pontua o médico.
Problemas oculares agravados pelo estresse e ansiedade
O oftalmologista do Hospital de Olhos Vitória, Rafael Paiva, explica que os problemas podem ser causados tanto pela tensão muscular ao redor dos olhos, que reflete na dificuldade em focar e até no aumento da pressão dos olhos, quanto pelas alterações hormonais, como o aumento de adrenalina e cortisol, que levam à sensação de peso nos olhos e trazem impactos na lubrificação ocular.
Um dos problemas que mais surgem é a Síndrome do Olho Seco, causada pela redução da produção de lágrimas e da hidratação natural dos olhos, o que provoca ardência, vermelhidão e visão turva. Outra situação comum são os espasmos palpebrais, contrações involuntárias das pálpebras que ocorrem devido à fadiga muscular. Além do incômodo, em casos mais graves, o problema pode evoluir para blefaroespasmo, uma condição que provoca fechamento involuntário das pálpebras.
Um dos efeitos mais preocupantes é o aumento da pressão intraocular, fator de risco para o glaucoma, uma doença que afeta o nervo óptico e pode levar à cegueira se não tratada adequadamente. Pacientes com glaucoma, inclusive, costumam relatar piora da visão em períodos de estresse intenso.
“Por isso, além de tratar o problema, precisamos investigar a causa, sempre considerando que pode ter uma origem emocional. Sempre que sentir algum sintoma nos olhos, principalmente se estiver interferindo nas atividades diárias, é imprescindível procurar um oftalmologista para avaliar e iniciar o tratamento adequado, evitando complicações. Ainda que muitos dos sintomas causados pelo estresse sejam temporários, não podemos negligenciar”, frisa o oftalmologista.
Dicas para reduzir o impacto do estresse na visão
- Faça pausas regulares no uso de telas
- Mantenha-se bem hidratado
- Consuma alimentos ricos em ômega-3, vitaminas A e E
- Priorize o sono de qualidade
- Reduza o consumo de cafeína e álcool
- Consulte um oftalmologista ao menor sintoma ocular
