Atualmente, o Brasil tem cerca de 1,5 milhão de pessoas cegas, segundo o CBO. Cerca de 90% dos casos são evitáveis ou tratáveis, especialmente quando diagnosticados no começo
Um estudo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostra que mais de 1,5 milhão de pessoas sofrem com a cegueira no Brasil e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 6,6 milhões de pessoas têm algum grau de deficiência visual. Com o objetivo de alertar a população sobre a importância de manter uma rotina de cuidados oftalmológicos e prevenir doenças que podem levar à perda parcial ou total da visão, nesta quinta-feira, 10 de julho, é celebrado o Dia Mundial da Saúde Ocular.
O cirurgião do Hospital de Olhos Vitória, Cesar Ronaldo Filho, alerta que cerca de 90% dos casos de perda parcial ou total são previsíveis ou tratáveis por meio da realização de consultas regulares. “Assim como cuidamos do coração, precisamos cuidar da visão. As consultas oftalmológicas de rotina não avaliam apenas nossa acuidade visual, mas permitem identificar problemas visuais silenciosos e assintomáticos no início, como o glaucoma, que hoje é uma das principais causas de cegueira no mundo”.
No entanto, as consultas oftalmológicas não são um hábito entre todos os brasileiros. A pesquisa “Percepção dos cuidados e atenção com a saúde ocular da população brasileira”, publicada na Revista Brasileira de Oftalmologia, mostrou que 11,4% dos entrevistados nunca tinham ido ao oftalmologista e 35% só o procuravam quando havia algum sintoma ocular ou visual. Outros 29,5% foram ao oftalmologista há mais de dois anos. Por outro lado, mais da metade dos entrevistados (55,8%) declarou ter algum problema de visão, sendo que 9,9% disseram ter catarata e 4,6%, glaucoma, principais causas de cegueira no mundo.
Diante desse cenário, a recomendação é clara: cuidar da saúde dos olhos deve ser um hábito contínuo em todas as fases da vida. Além da realização de consultas anuais com oftalmologista, é importante estar atento a sinais como vista embaçada, olhos vermelhos, lacrimejamento excessivo, aumento repentino de grau, sensibilidade excessiva à luz, visão dupla, dor de cabeça constante e dificuldade para enxergar à noite, entre outras alterações.
“As principais causas de perda de visão entre os brasileiros são catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade (DMRI), a retinopatia diabética e erros refrativos, como grau de miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia. Na maioria dos casos, o paciente só irá ter sintomas com a doença já avançada. O diagnóstico precoce é essencial para tratar a condição logo no início. Por isso as consultas são tão importantes, mesmo sem qualquer sintoma”, reforça doutor Cesar.
O médico ainda lembra que a saúde ocular está diretamente ligada ao bom funcionamento do organismo como um todo. “Doenças sistêmicas como diabetes e hipertensão afetam diretamente os olhos e podem causar cegueira, como a retinopatia diabética e a hipertensão ocular. Uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios são hábitos que fazem diferença também na saúde dos olhos”, finaliza o cirurgião.
Impactos na saúde mental
A perda da visão traz impactos que vão muito além da limitação física. Por ser é responsável por mais de 80% das informações processadas no cérebro, os olhos estão diretamente conectados às emoções e à autonomia. “Quando a visão começa a falhar, isso pode desencadear uma série de dificuldades, com impacto no bem-estar físico, emocional e social”, frisa o cirurgião do Hospital de Olhos Vitória, Cesar Ronaldo Filho.
De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), adultos com perda visual têm o dobro do risco de desenvolver depressão, quando comparados a pessoas com boa acuidade visual. Outro estudo, da BMC Ophthalmology, mostrou que pessoas com baixa visão tendem a relatar mais ansiedade em interações sociais, o que pode afetar diretamente a autoestima, especialmente em fases da vida em que aparência e aceitação exercem grande influência.
Entre os idosos, os prejuízos se agravam. Um levantamento publicado pelo American Journal of Epidemiology indicou que a baixa visão pode estar associada ao surgimento de demências, como a Doença de Alzheimer. “A limitação visual nessa faixa etária tende a acelerar o declínio cognitivo por conta da redução nas atividades do dia a dia, do menor engajamento social e do aumento do isolamento”, ressalta doutor César.